A autoestima das pequenas coisas: por que lavar a louça pode ser um ato revolucionário

Mais do que uma “sessão de autocuidado” com produtos caríssimos e banho de espuma na banheira (coisas do Instagram, né?), a autoestima é, antes de mais nada, um hábito cotidiano, não como meta distante vista através dos diversos filtros das redes sociais.

Imagina a cena: você abre o Instagram e lá está aquela pessoa. A que medita às 5 da manhã (na verdade agora as influencers de morning routine estão de pé às 3 da manhã), posta o smoothie verde fotogênico e ainda tem tempo de ler um livro por semana. Aí você olha para sua vida e pensa: “Por que eu não consigo ser assim?”.

Quer saber de uma coisa muito interessante? Ninguém consegue. Ou melhor, ninguém consegue sempre.

A verdade é que a gente transformou autoestima em um troféu que só quem escala montanhas (literais ou metafóricas) pode segurar. Veja como são aclamadas as pessoas que escalaram o Everest! Mérito delas? Claro! Mas obviamente a maioria de nós nunca terá o dinheiro necessário para escalar o Everest (sim, os custos para tal viagem – permissão de escalada, equipamentos e guias – podem chegar a US$150.000,00 ou até mais). 

Mas calma! E se eu te disser que lavar a louça pode ser mais transformador do que qualquer meta de “melhor versão de si mesmo”? (Sim, escalar o Everest soa mais legal do que lavar uma pilha de louça suja, mas fica comigo que você vai entender o que quero dizer). 

O mito da autoestima épica (e por que ele nos sabota)

Um estudo da Universidade de Hertfordshire revelou que pessoas que associam bem-estar a grandes conquistas (tipo promoção no trabalho ou 10kg perdidos) tendem a se sentir menos felizes no dia a dia do que aquelas que celebram microvitórias.

Traduzindo: se você só se permite sentir-se sentir bem quando atinge algo “importante”, passa 99% do tempo se achando insuficiente.

É como se sua autoestima fosse um celular que só carrega em estações de energia raras — e não na tomadinha comum do cotidiano.

Lavar a louça, secar a louça, guardar a louça: um ato de coragem

Aqui vai um segredo: autoestima é um músculo. E os músculos se fortalecem com repetição, não com gestos heróicos ocasionais.

Quando você:

  • Termina uma tarefa chata (mesmo que seja só tirar a roupa do varal);
  • Cuida de algo que é seu (tipo regar a plantinha que sobrevive por milagre);
  • Faz algo pelo seu “eu futuro” (deixar a marmita preparada para o dia seguinte),

Você está mandando uma mensagem subliminar para seu cérebro: “Eu importo. Minhas coisas importam. Meu tempo importa.”

E não, não é bobeira. Pesquisas em neurociência comportamental mostram que rituais cotidianos ativam o mesmo circuito cerebral de recompensa que grandes conquistas — só que em doses menores e mais frequentes.

O poder revolucionário do “tá bom pra hoje”

A psicóloga Kathleen D. Vohs provou em seus estudos que ambientes organizados reduzem o cortisol (o hormônio do estresse). Mas calma, isso não é um incentivo para você virar um minimalista do Pinterest.

É sobre entender que, quando você:

  • Escolhe não dormir no caos (mesmo que “só” seja dobrar o cobertor);
  • Para para comer sem olhar o celular (sim, isso conta como autocuidado);
  • Liga para uma amiga só pra dizer “tô pensando em você” (sem motivo épico),

Você está praticando autoestima operacional — aquela que não espera uma crise para se manifestar.

Autoestima não é um destino. É o caminho de volta pra casa.

Se pararmos para pensar, no fim das contas, talvez a revolução mais radical seja parar de achar que cuidar de si mesmo precisa ser grandioso.

Porque, sério, quem precisa de um retiro espiritual no Bali quando você pode:

  • Ler 3 páginas de um livro qualquer antes de dormir (e se sentir uma intelectual);
  • Cantar no banho como se estivesse no The Voice (nota 2, mas feliz);
  • Lavar aquele copo que tá na pia desde ontem (e ganhar um Nobel de Paz interior).

Ah, e aqui eu tenho uma dica pessoal. Celebre pequenas conquistas. Olhe para a pia limpinha e sem nada sobre ela, sorria e se parabenize pelo seu feito. Autoestima também é sobre celebrar as pequenas conquistas. 

Fique bem!

(Fontes: University of Hertfordshire; Journal of Consumer Research; estudos sobre neurociência de hábitos)

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