Diferente dos outros artigos, onde trago uma visão mais bem-humorada, hoje eu quero falar de maneira mais séria, sem clichês ou frases de efeito. Todos passamos por momentos em que a vida escorre pelos dedos – e como fazemos para recolher os cacos sem nos cortarmos?
Algumas perdas chegam de supetão: um aviso de demissão, uma conversa que termina com “não dá mais”, um diagnóstico inesperado. Outras são terremotos lentos – um casamento que definha aos poucos, um emprego onde você não é reconhecida e que suga sua energia. Ou, pior ainda, um luto que não cabe no calendário (e no coração). Nestas horas, autocuidado não é sobre velas aromáticas ou metas, mas sobre não deixar que a dor te devore por dentro. Este texto foi especialmente escrito para quem está reconstruindo a vida com os pedaços que sobraram e precisa lembrar que respirar já é um começo.
O luto que ninguém reconhece: divórcio, demissão e outras perdas invisíveis.
Uma publicação do Journal of Trauma and Loss (2023) mostra que perdas não-morte (como divórcio ou desemprego) ativam os mesmos circuitos neurais do luto tradicional.
Nesses momentos, há coisas que devem sim ser permitidas sem serem julgadas:
Chorar um relacionamento que acabou mesmo que “ninguém tenha morrido”.
Sentir raiva do ex-chefe como se fosse um luto profissional.
São perdas e deve-se respeitar o processo de luto.
Como sobreviver ao desemprego – quando tanto o saldo bancário quanto a alma estão no vermelho.
A Universidade de Cambridge (2023) publicou um artigo ressaltando que o desemprego prolongado eleva o cortisol mais que o divórcio.
Aqui o importante é não deixar a peteca cair e se lembrar de que, por mais difícil que seja, o desemprego é uma situação passageira. Para isso, movimente-se!
Vista uma roupa “de gente empregada” mesmo sem entrevista.
Faça um curso gratuito no YouTube só para lembrar que você ainda tem habilidades.
E, o mais importante: se cuide! Não pule refeições, tente dormir (eu sei, nem sempre é fácil nesse tipo de situação), beba água e faça alguma atividade física, mesmo que seja caminhar pelo bairro.
A arte de fazer o mínimo (sem ódio de si).
A caminhada da reconstrução é cheia de pedras e curvas. Portanto, trago aqui algumas dicas para aqueles dias em que tudo pesa:
Comer é melhor do que comer saudável.
Simplesmente conseguir dormir é melhor do que dormir cedo.
Quem disse que você não pode chorar no banho? Claro que pode! Considere isso como um banho terapêutico.
Quando eu passei pelo meu processo de divórcio, meu ‘jantar’ foi pão com manteiga e um copo de leite. Mas comi. E isso já foi vitória.
Como pedir ajuda quando até isso parece um peso – e uma vergonha.
Desde cedo aprendemos que pedir ajuda é um sinal de fraqueza (especialmente para os homens), e com isso estamos em uma sociedade adoentada e amedrontada por simplesmente pedir ajuda. Mas você pode quebrar esse ciclo.
“Preciso de um abraço, não de conselhos.”
“Pode me ajudar a lembrar de tomar remédio?”
“Só preciso de silêncio e sua presença.”
“Aprendi que ‘não aguento’ é uma frase completa.” Não precisa de justificativa.”
E não se preocupe, quem realmente se importa com você jamais te julgará por pedir ajuda.
Já ouviu falar nos marcadores invisíveis de progresso?
Pouco a pouco, vamos nos reconectando com o mundo após uma crise, e fazemos isso sem perceber. Aqui eu te trago três sinais básicos dessa “reconexão” com o mundo:
Você consegue assistir a um filme sem associar à perda.
Você limpa uma gaveta sem crise existencial.
Rir de algo e não se sentir culpada depois.
Certa vez, quando fiquei desempregada, meu primeiro sinal de vida foi fingir que eu era turista no meu bairro. Parece bobo, mas foi meu cérebro dizendo ‘ainda há mundo lá fora’. Com isso, descobri uma loja de doces super tradicional e uma padaria maravilhosa!
Agora vamos falar sobre o que não te contam sobre recomeços.
- Divórcio: a primeira noite sozinha na cama de casal vai doer. A décima, talvez já dê para virar de lado sem chorar. Um ano depois, você está dormindo no meio da cama, com quatro travesseiros novinhos!
- Desemprego: mandar 50 currículos e não ter uma resposta não é um fracasso. É o sistema que é quebrado, não você. Continue a procurar e a fazer cursos enquanto o ‘Sim!’ não chega.
Luto: sonhar com quem partiu não é regressão. É o coração aprendendo a viver com o vazio.
Autocuidado em crise não é uma linha reta. Ao contrário, é uma verdadeira montanha-russa. É sobre encontrar beleza nos cantos quebrados: no café que esfriou porque você esqueceu, no silêncio que dói menos que as frases feitas, no corpo que ainda respira mesmo quando a alma parece desmontada. Você não está “superando”. Está sobrevivendo. E isso, hoje, é mais que suficiente.
Fique bem!