Como um caderno mudou minha vida.

“Tutorial de journaling para quem acha que ‘não tem nada importante para escrever’”.

Sempre gostei de escrever. Desde criança, minhas redações eram as melhores (e com as notas mais altas). Mas, com o passar do tempo, escrever se tornou algo para o qual eu ‘não tinha tempo’. 

Até que voltei para a terapia e bum: minha psicóloga me indicou manter um diário como parte do meu tratamento. Sinceramente, eu achava diário coisa de adolescente dramática ou de guru espiritual. Até que, num dia especialmente ruim, decidi abrir o caderno que eu havia comprado (e estava no plástico já fazia um mês) e rabisquei: “Hoje só fiz escovar os dentes.” Mas escovei.” Naquele momento, eu tive uma epifania. O autoconhecimento não vem de grandes feitos, mas sim de microconquistas anotadas. A partir daí, eu não parei mais de documentar as coisas que estavam acontecendo na minha vida e te digo: se você acha que “não tem nada demais para registrar”, este guia é para você – e o seu futuro lhe agradecerá.

Por que um caderno funciona (e apps não).

De acordo com uma pesquisa da Universidade do Texas (2023), escrever à mão ativa o córtex pré-frontal (área da tomada de decisões).
Isso, na prática, quer dizer que o papel não tem algoritmo para te distrair com notificações e também que riscar, rabiscar e desenhar libera emoções que digitar não permite. Um exemplo disso são as páginas do meu diário dedicadas exclusivamente a palavrões. É terapêutico. E é mais aconselhável escrever o xingamento no papel do que falar na cara da pessoa, não é mesmo? 

Bom, se você se decidiu a dar uma chance para a escrita, vou te passar alguns passos simples para você começar (sem frescura).

Materiais: Qualquer caderno (até o da promoção do mercado). Pode ser de arame, sem arame, grande ou pequeno, todo desenhado ou sem linhas, pouco importa.
Passo a passo:

Coloque a data do dia (isso vira seu marco histórico).

Escreva suas microconquistas do dia (ex.: “Tomei café da manhã”, “Não xinguei o trânsito”).

Escreva uma coisa que aprendeu sobre si mesma (ex.: “Percebi que fico ansiosa quando como rápido”).

“No meu primeiro mês, anotei: ‘Lavei a louça antes de dormir’. Parece bobo, mas foi meu MVP (Most Valuable Prato).”

Não sabe o que escrever? Preocupa não! Dá uma olhada nestes modelos anti-bloqueio criativo (sim, isso não é coisa somente de escritor renomado!).

Para os dias ruins:

  • “Hoje foi uma merda, mas pelo menos…” (complete com algo mínimo).
  • “Lista de coisas que NÃO fiz (e tá tudo bem)”: “Não limpei a casa.” Não respondi mensagens.”

Para os dias ‘normais’:

  • “Descoberta aleatória sobre mim hoje:” (“Percebi que gosto mais de banho frio do que pensava”).
  • “Alguém me fez rir?” (Registre momentos leves).

Não subestime o poder das pequenas vitórias.

De acordo com o Journal of Positive Psychology (2022), registrar  aumenta a autoestima em 8 semanas. Ou seja: antes de mais nada, seja persistente.
Exemplos reais do meu caderno:

  • Fiz uma piada sem graça e ri sozinha. Ri de verdade, não por educação.
  • Deixei um grupo de WhatsApp que me enchia o saco. Liberdade!
  • Aprendi a dizer ‘Não’ sem me sentir culpada. 

Com o journaling, também é possível explorar o seu autoconhecimento em três perguntas:

Para refletir no fim da semana:

  1. “O que me deixou genuinamente feliz esses dias?” (Pode ser um gole de café perfeito, um passarinho que cantou perto da sua janela, ou uma velhinha que te elogiou).
  2. “Qual padrão eu repeti sem perceber?” (Ex.: procrastinar quando ansiosa).
  3. “O que posso experimentar diferente amanhã?” (Ex.: “Vou tomar banho de música”, “Vou comer em um restaurante diferente”).

Diário ≠ Instagram (Permita-se ser feio).

  • Escreva errado.
  • Rasgue páginas.
  • Use caneta vermelha para raiva, azul para paz.
  • Desenhe setas, corações ou carinhas tristes.

“Meu caderno tem uma página só com ‘PORRA’ escrito na página inteira.” Foi meu melhor dia de terapia.”

Viu como é na verdade simples? O autoconhecimento não é um insight grandioso. É a soma das pequenas coisas que você nota sobre si mesma. Seu caderno é um espelho sem filtro – e, com o tempo, você vai se amar mais por quem realmente é, não por quem posta.

(E se um dia você reler e pensar “nossa, como eu mudei”, esse é o maior like que existe.)

Fique bem!

Fonte de pesquisa para as estudiosas:

  1. Universidade do Texas (2023). “Handwriting vs. Typing for Self-Discovery
  2. Journal of Positive Psychology (2022). “Micro-Wins and Self-Esteem”

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