“Não são as coisas que nos perturbam, mas a interpretação que damos a elas.”
— Epicteto.
Ansiedade. A palavra do momento. Presente em todas as bocas e mentes, especialmente após a crise sanitária de 2020. A ansiedade entrou no vocabulário popular e, infelizmente, na vida de uma parcela enorme da população.
A ansiedade muitas vezes surge de nossa luta contra o incontrolável: o trânsito caótico, as opiniões alheias, os imprevistos da vida, os resultados que esperam de nós, as metas impossíveis de bater no trabalho. O Estoicismo, filosofia helenística praticada pelo Imperador Marco Aurélio, Sêneca e Epicteto, oferece um antídoto poderoso: a arte de distinguir entre o que podemos e não podemos controlar — e a sabedoria para focar nossa energia apenas no primeiro.
A Dicotomia do Controle: o Princípio Fundamental.
Epicteto, em seu Manual, resume o núcleo do estoicismo:
- O que controlamos: nossos pensamentos, ações e valores.
- O que não controlamos: eventos externos, o passado, as ações dos outros.
Vamos a uma aplicação prática e simples desses dois eventos:
Antes de mais nada, identifique a fonte da ansiedade:
“Estou ansiosa porque meu chefe pode não gostar do meu relatório.”
Pergunte-se: “Isso depende inteiramente de mim?”
Análise: Você controla a qualidade do relatório (sim), mas não a reação do chefe (não).
Viu como é simples? Você trabalhou, fez seu melhor e construiu um relatório sem nenhuma ponta solta. Você tinha total controle sobre isso. Agora… o que vem externamente (seja seu chefe, outros colegas de trabalho, aquela pessoa aleatória da rua), disso você não tem o mínimo controle.
Se pararmos para pensar, nossas maiores frustrações vêm em parte do fato de querermos que as reações alheias estejam de acordo com as nossas expectativas. E a novidade é: em praticamente 100% das vezes, a reação alheia vai ser totalmente diferente do que havíamos previsto.
Técnicas estoicas para a vida diária.
Uma das coisas pelas quais mais sou grata à vida foi por eu ter encontrado o Estoicismo. Ele é rico em ensinamentos simples e tão preciosos que eu decidi trazer alguns para vocês:
1. Premeditatio Malorum – Premeditação das Adversidades.
Sêneca recomendava visualizar mentalmente os piores cenários para reduzir seu impacto emocional. Exercício: Antes de uma apresentação importante, pense: “E se eu gaguejar ou esquecer um ponto?”
Em seguida, planeje: “Continuarei falando com calma ou farei uma pausa.”
2. Amor Fati (amar o destino).
O Imperador Marco Aurélio escreveu em seu famoso livro, Meditações:
“O obstáculo se torna o caminho.”Aplicação: Um engarrafamento vira tempo para ler ou ouvir um podcast (construtivo, não de fofoca de celebridades); uma crítica injusta vira exercício de resiliência.
3. Diário Estoico (meu preferido).
Em alguns artigos desta categoria, eu falo sobre a importância de se ter um diário. Caso você não tenha, por favor, reconsidere. E caso você já tenha, escreva todas as noites:
- O que aconteceu de desafiador.
- O que você controlava ou não.
- Como poderia agir diferente amanhã?
O Estoicismo é diferente da repressão emocional.
Ao contrário do mito, os estoicos não pregavam a eliminação das emoções, mas sua transformação através da razão.
Sim, há muitos canais de um certo conteúdo que prefiro não expor aqui que usam sobretudo a figura do Imperador Marco Aurélio como garoto-propaganda de um movimento que não é nada saudável e coloca o Estoicismo como uma justificativa para tal. Mas, como mencionado, o que o Estoicismo ensina é a transformar as emoções através da razão, como explica Sêneca:
“A coragem não é a ausência do medo, mas o julgamento de que algo é mais importante que o medo.”
Para tornar tudo isso mais didático, vamos a um breve estudo de caso sobre ansiedade social.
Imagine que você foi convidada para uma festa e, a caminho do lugar, começa a sentir medo de ser julgada, seja pela sua roupa, seu cabelo ou maquiagem. Aqui entra a análise estoica:
- Incontrolável: o que os outros pensam.
- Controlável: sua postura, gentileza e atenção aos outros convidados.
A ação aqui resta em focar em ouvir ativamente e não em “causar boa impressão”.
Para concluir este artigo, vamos falar sobre a liberdade na aceitação. O Estoicismo não promete uma vida sem problemas, mas uma mente preparada para enfrentá-los. Como dizia o Imperador Marco Aurélio:
“Você tem poder sobre sua mente — não sobre os eventos externos. Perceba isso, e você encontrará força.” Já que você tão gentilmente chegou até aqui, eu te proponho um exercício final:
- Liste 3 situações atuais que lhe causam ansiedade.
- Ao lado de cada uma, escreva: “O que eu controlo nisso?”
Quando perceber que os eventos externos estão fora do seu controle e que, a única coisa que você controla em todas as situações é você mesma, sua vida se tornará mais leve. Deixo aqui links para as estudiosas de plantão que queiram conhecer mais sobre essa maravilhosa filosofia:
- Meditações, Marco Aurélio (Ed. Penguin Companhia).
- A Arte de Viver, Epicteto (Ed. Edipro).
Fique bem!