Falando sobre Nietzsche e como o Amor Fati transforma adversidade em liberdade.

“Não quero guerrear contra o que me fere. Quero aprender a ver beleza até nas minhas cicatrizes.”

Quando Nietzsche citou a frase “o que não me mata me fortalece”, ele não estava propondo um clichê de coach motivacional do Instagram. Ele nos entregava um convite que pode ser considerado radical: abandonar a postura de vítima para nos tornarmos artistas de nossa própria destruição. Seu conceito de amor fati (amor ao destino) não é sobre resignação, mas sobre alquimia — transformar o chumbo da dor no ouro da sabedoria.

O peso e a dança.

Vamos lá: imagine um alpinista escalando uma montanha carregando uma pedra enorme. Para a maioria, seria apenas um fardo. Nietzsche, porém, perguntaria: “E se você a esculpisse em algo belo enquanto sobe? Ou se a usasse para construir um altar no cume da montanha?”

Assim são os problemas e adversidades. Podemos arrastá-los como um peso morto ou redimi-los através do sentido. Por exemplo: um término doloroso vira uma chance de autoconhecimento; uma doença nos força a desacelerar e reavaliar prioridades; já um fracasso profissional pode revelar vocações adormecidas.  O amor fati é esse sim ao inesperado, mesmo quando ele vem vestido de caos.

O anti-consolo filosófico.

Enquanto a psicologia positiva nos manda “pensar positivo”, Nietzsche contra-ataca: “Abrace seu demônio interior — ele pode ser seu melhor professor”. 

Aqui não se trata de negar a dor, mas de mergulhar nela até encontrar seus diamantes brutos. Quer um exemplo? Vamos lá. Durante seus anos de sofrimento físico (enxaquecas devastadoras e cegueira parcial), Nietzsche escreveu algumas de suas obras mais luminosas. Não apesar da dor, mas por causa dela. Ele moldou suas dores e sofrimentos físicos como um ourives que sabe que só o fogo purifica o ouro.

Como gosto de fazer em todos os artigos sobre Filosofia, vamos para um exercício prático: 

O diário do Amor Fati.

Toda noite, antes de dormir, escreva em um caderninho. Pode ser aquele caderno que você ganhou no trabalho no famoso Kit de boas-vindas, um caderno da faculdade que ficou por acabar ou até um que você tenha feito com folhas soltas que foi encontrando.

  1. Hoje, o destino me trouxe [descreva um evento difícil].
  2. “Como isso poderia me transformar, não me destruir?” (Seja criativa: um atraso no trânsito virou tempo para ouvir um podcast inspirador; uma crítica injusta ensinou paciência.)
  3. “Daqui a cinco anos, que história heroica contarei sobre esse dia?”

Com o tempo, você notará algo estranho: os eventos não mudam, mas seu olhar sim. E é aí que mora a libertação.

O perigo do Super-Homem.

Cuidado com as interpretações distorcidas. Nietzsche não pregava um masoquismo vazio. O amor fati não é sobre aceitar abusos ou injustiças passivamente, mas escolher responder a elas com uma postura ativa de recriação. Como ele dizia: “Quem tem um ‘porquê’ suporta quase qualquer ‘como’.”

Último ato: a dança no abismo.

No fim da vida, louco e frágil, Nietzsche assinava cartas como “O Crucificado”. Mesmo então, sua filosofia ecoava: a verdadeira grandeza não está em evitar a queda, mas em aprender a cair com graça.

Assim sendo, quando a próxima tempestade vier (e uma hora ou outra as tempestades sempre vêm), se acalme, respire fundo e experimente sussurrar como ele: “Eu quero isso exatamente assim. Eu quero tudo, de novo e para sempre.” E então — pasme — você descobrirá que até o raio pode iluminar, se olhado de certo ângulo.

E agora?
O amor fati não se aprende na teoria, mas no corpo a corpo com a vida. Amanhã, quando algo der errado, respire fundo e pergunte: “Que personagem estou decidindo ser nessa história: o mártir ou o artista?” A resposta mudará tudo. 

Links para as estudiosas de plantão:

  • “Ecce Homo” (Nietzsche) — sua autobiografia filosófica, escrita na beira do abismo.
  • “A Redenção de Nietzsche” (Irvin Yalom) — ficção que humaniza o mito.

Fique bem!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima