Marco Aurélio para mulheres modernas: A raiva como professora.

“A felicidade da sua vida depende da qualidade dos seus pensamentos.”

Confesso que meu primeiro contato com o Imperador Marco Aurélio foi assistindo ao filme Gladiador (2000). Esse é um dos meus filmes preferidos e eu fiquei muito intrigada com o personagem do Imperador. Um homem sábio, lapidado por diversas batalhas e que, ainda assim, guardava uma visão incrível sobre tudo o que o circundava. Passei a me interessar por ele e vi que este homem que existiu tantos séculos atrás é uma verdadeira fonte de sabedoria. 

No meio do caos de batalhas no front germânico, ele escrevia à luz de archotes conselhos para si mesmo. Dois milênios depois, suas palavras ecoam com urgência nas mãos de mulheres que travam guerras invisíveis: chefes injustos, filhos desobedientes, sociedades que exigem perfeição. O Imperador Marco Aurélio não oferece fórmulas mágicas, mas um espelho — para transformar a raiva que queima o peito em fogo que ilumina.

A raiva é um sinal no caminho, não um destino.

Quando aquela onda quente de indignação subir — porque ele mais uma vez deixou a louça suja, porque a promoção foi para o colega menos competente, porque o mundo insiste em ser injusto —, lembre-se do primeiro princípio estoico:

“Isso está sob meu controle?”

Se a resposta for não, o que você precisa fazer é desapegar. Se for sim, seu trabalho é agir — não gritar. A diferença entre uma mulher explosiva e uma mulher poderosa está em gerir suas emoções e trocar o vapor da emoção momentânea por força motriz. 

Eu sei, quase nunca é fácil respirar e ter uma atitude racional frente às adversidades (e confesso que isso é algo que eu mesma estou tentando melhorar em mim). Mas, vamos lá, o Imperador Marco Aurélio nos deixou algumas dicas e exercícios que podem ser usados em momentos de turbulência emocional. 

Exercício da ampulheta.

Na próxima vez que a raiva surgir:

  1. Vire uma ampulheta imaginária (ou use uma de verdade, três minutos bastam).
  2. Antes que a areia acabe, pergunte:
    • “O que exatamente me feriu?” (O ato ou meu julgamento sobre ele?)
    • “Minha reação melhorará algo ou só criará mais ruído?”

3. Quando o último grão de areia cair, decida: engolir o veneno ou transformá-lo em remédio.

O Imperador Marco Aurélio escreveu: “A melhor vingança é não ser como seu inimigo.” Para nós: a melhor rebelião é não deixar que eles definam nosso tom.

Diário da Imperatriz (versão estoica).

À noite, em vez de ruminar mágoas, pegue o seu diário e escreva:

“Hoje, [situação] tentou me tirar do centro.
Minha resposta estoica foi: [ação].
O que aprendi sobre meu poder? [lição].”

Quer um exemplo?
“Hoje, meu chefe desmereceu meu projeto em frente à equipe.”
Minha resposta estoica foi: respirar fundo e perguntar calmamente quais ajustes ele sugeria.
O que aprendi: minha dignidade não depende da aprovação dele.”

Os Quatro Antídotos Imperiais.

Adaptando Meditações para nossos dilemas:

  1. “Isso também passará” — A cliente grosseira, a cólica menstrual, a traição do amigo. Nada é permanente.
  2. “Visualize o pior” — Se sua sogra criticar sua maternidade na ceia, qual o verdadeiro dano? Sangue não escorre por palavras.
  3. “Amor fati” — A reunião cancelada, o leite derramado: abrace o acidente como matéria-prima para nova história.
  4. “A morte como conselheira” — No leito final, você se orgulhará de ter perdido tempo com essa briga?

A revolução da calma.

Estamos em uma era que romantiza a “mulher raivosa” como símbolo de empoderamento. Eu, muito sinceramente, não concordo e você tem total direito de discordar de mim. Como seguidora do Imperador Marco Aurélio, eu levo comigo uma de suas frases mais poderosas e sutis, que chega para mim como um sussurro: “O verdadeiro poder está em escolher suas batalhas — e nelas, suas armas.”

Não se engane: isso não é passividade. Isso não é abaixar a cabeça e aceitar tudo sem contestar. É estratégia. Quando você responde ao trânsito caótico com uma playlist, à grosseria do atendente com um “tenha um bom dia”, ao machismo com um sorriso afiado — está praticando o estoicismo como arte marcial.

Último ato: o colar de pérolas.

Imagine cada irritação do dia como um grão de areia que entra em uma concha e esta concha é você. Você pode cuspir a areia… ou, com paciência de ostra, transformá-la em pérola. No fim do mês, terá um colar de sabedoria.

E agora?
Na próxima vez que o mundo apertar seus botões, lembre-se: você carrega nas veias o sangue das mulheres que sobreviveram a impérios, a batalhas e injustiças. Mantenha seu diário vivo e saiba que, um dia, suas netas lerão seu diário e aprenderão como se doma um dragão sem perder a chama. 

Para as estudiosas de plantão: 

  • Meditações (Ed. L&PM) — versão acessível
  • A Arte de Viver (Epicteto) — manual prático.

Fique bem!

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