O mito da manhã perfeita: por que rotinas matinais não são para todo mundo (e tá tudo bem!)

Se você já se sentiu uma fracassada por não acordar às 5h para meditar, correr 10km e ler um livro antes do café da manhã, respire fundo: você não é o problema. A indústria da produtividade tóxica transformou a rotina matinal em um culto – como se acordar antes do sol fosse um requisito para ser bem-sucedida. Mas aqui está a verdade inconveniente: nem todo mundo funciona melhor de manhã, e tentar se encaixar nesse molde pode ser mais prejudicial do que útil.

A ciência do cronotipo: seu relógio biológico não é opcional.

Pesquisas da Oxford University mostram que cerca de 40% das pessoas são noturnas ou têm picos de energia no fim do dia. Esses indivíduos – conhecidos como “corujas” – simplesmente não produzem melatonina (o hormônio do sono) no mesmo ritmo que os madrugadores. Ou seja: forçar uma rotina das 5h em um cérebro que ainda está no modo “hibernação” é como tentar ligar um foguete espacial com cachaça. Pior, um estudo da Northwestern University associou a dissonância entre cronotipo e rotina a maiores riscos de ansiedade, depressão e até doenças cardiovasculares.

A tirania dos gurus da madrugada.

Livros, podcasts e influenciadores vendem a ideia de que “quem domina a manhã domina a vida”. Mas essa narrativa ignora dois fatos:

O primeiro é que muitos dos “exemplos de sucesso” têm privilégios invisíveis (como assistentes, muito dinheiro, flexibilidade de horário ou simplesmente um corpo biologicamente predisposto a acordar cedo).O segundo fato é que a produtividade não tem horário fixo. Franz Kafka escrevia de madrugada. Winston Churchill trabalhava até tarde e dormia até meio-dia. O que importa não é quando você produz, mas como e o quanto – dentro do seu ritmo natural.

Rotinas matinais são ferramentas, não religiões.

Se acordar cedo funciona para você, ótimo! Mas se não funciona, em vez de se torturar, experimente:

  • Descobrir seu “horário de ouro” (aquela janela do dia em que você se sente naturalmente focado);
  • Criar um ritual de início (não precisa ser de manhã! Pode ser um café às 14h ou cinco minutos de alongamento antes de começar a trabalhar.
  • Ignorar a pressão do “tem que” (“Tem que”? Só se seu corpo concordar.

A indústria da produtividade tóxica lucra com a sua culpa.

Vender a ideia de que “você não é produtiva o suficiente” é um negócio bilionário. Cursos, planners e apps de hábitos prosperam porque exploram uma insegurança universal: a de não estar fazendo o máximo. Mas e se, em vez de comprar mais uma solução mágica, você questionasse:

  • Quem disse que só tem sucesso quem acorda às 5h para fazer “rotinas matinais”?

Será que minha energia não é diferente em vez de errada?

Está tudo bem não ser um “early bird”.

O mundo precisa de noturnos, de pessoas que funcionam melhor após o meio-dia, de cérebros que acendem quando outros já estão desligando. Sua produtividade não é medida pelo horário do seu despertador, mas pelo que você entrega – e como se sente no processo.

Fique bem!

Fonte de pesquisa para as estudiosas:

  • Kelley, P. et al. (2015). “Synchronizing education to adolescent biology”.  Oxford University.  (Sobre cronotipos e desempenho.)

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