Todas falamos da importância da terapia (e eu, mais do que ninguém, sei o quanto a terapia tem sido importante na minha vida). De um modo geral, a terapia está cercada de mitos. Alguns acham que é um oráculo mágico que vai dar respostas prontas. Outros, que é tipo um fast food emocional: chega deprimido, sai curado em 50 minutos.
Aí você começa e descobre que autoconhecimento tem mais a ver com escavar do que com receber medalhas.
Neste artigo, eu vou falar as verdades que os memes não mostram (mas que todo terapeuta honesto confirma). Preparadas?
“Às vezes piora antes de melhorar” (e isso é ciência, não é mágica).
Um estudo da Universidade da Pensilvânia revelou que 40% dos pacientes têm uma piora temporária no início da terapia. Mas por que isso acontece?
Você está tirando o gesso emocional: aquela raiva que você enterrou há anos? O medo que disfarçava com trabalho excessivo? Algum trauma de infância? Tudo volta à tona quando você começa a mexer. Na verdade, o cerne da terapia é esse: mexer onde dói.
Eu encaro a terapia como limpar um ferimento: arde (muito) antes de cicatrizar.
Não se preocupe se você sair da sessão se sentindo mais perdido que o Jon Snow. Isso pode ser sinal de que está no caminho certo.
Seu terapeuta não é o Google ou o Chat GPT (e agradeça por isso).
Esqueça aquela fantasia de que o psicólogo vai te dizer “faça X, Y e Z para ser feliz”.
A terapia boa te devolve perguntas, não respostas.
“Por que isso te incomoda tanto?”
“O que você TOLERA hoje que não toleraria há 5 anos?”
Você vai odiar a terapia no começo (sinceramente? Eu odiei e quis desistir, pois sabia que seria doloroso. Mas quando percebi que ninguém sabe mais sobre a minha vida do que eu mesma, e que eu me dispus a curar as minhas feridas, eu fiquei.
Autoconhecimento dói mais do que criar perfil no Tinder e não ter nenhum match.
Descobrir coisas sobre si mesma não é sempre “uau, que incrível!”. Às vezes é:
“Aff, eu sou igual à minha mãe.”
“Pera, eu me saboto sozinha?”
“Então eu gosto de gente que me trata mal… por quê?”
Um dado da Clínica Mayo mostra que 70% dos pacientes passam por um “choque de autopercepção” nos primeiros meses. Mas é aí que o crescimento acontece. Esse choque mostra que, no fundo, nem sabemos quem somos. E é completamente doido pensar nisso.
Terapia não é só chorar no divã (e tem dever de casa, viu?).
Ir à terapia só para desabafar e não mudar nada fora do consultório (ou da chamada de vídeo) é igual a fazer academia e continuar comendo só pizza. Não vai surtir efeito e aí sim você vai começar a achar que a terapia é uma perda de tempo.
Um ótimo exercício (indicado pela minha terapeuta) é justamente o journaling (que inclusive eu citei neste artigo aqui: xxx). Escrever sobre si mesma abre várias janelas. Abre, inclusive, sua percepção sobre si mesma e te ajuda a se compreender melhor.
Exercícios reais que os terapeutas passam:
- Anotar situações que disparam sua ansiedade.
- Fazer algo diferente da sua rotina (ex.: dizer “não” sem justificar).
- Ler um livro que te desafie (e não só os que confirmam suas crenças).
Nem todo mundo precisa de anos de terapia… mas quase todo mundo precisa mais do que acha.
Realmente, nem todo mundo precisa ficar anos e anos em terapia. Tudo vai depender da situação e gravidade da situação pela qual você está passando.
A média é de 1 a 2 anos para questões específicas (ansiedade, luto).
Transtornos complexos (TEPT, borderline) podem levar mais.
E sim, você pode voltar depois de um tempo – como faz check-up médico.
Em alguns casos, a terapia é prescrita pelo médico psiquiatra (nem somente de tarja preta vive o ser humano).
“Seu terapeuta pode ser incrível… E não ser para você.”
Química existe, igual no Tinder: se depois de cinco sessões você ainda se sente julgada ou travada, pode ser hora de procurar outro profissional.
Diferentes abordagens funcionam para diferentes pessoas:
A TCC tem foco em ações e pensamentos. A Psicanálise tem seu foco em padrões inconscientes e a ACT foca em aceitação e ação.
Mas não somos nós que determinamos qual abordagem é a mais indicada para o nosso caso. A primeira sessão de terapia geralmente é uma anamnese, onde o profissional vai ver junto com você qual a melhor forma de abordar o que te trouxe até ele(a).
Concluindo nosso pensamento: terapia é como fazer jardinagem, e não como tirar selfie.
Não dá para colher flores sem mexer na terra (e lidar com minhocas).
O crescimento é lento, mas real e palpável. Você sente que está florescendo, desabrochando…
E, no fim, você descobre que sempre teve as ferramentas – só precisava de ajuda para encontrá-las.
Fonte de pesquisa para as estudiosas: University of Pennsylvania; Clínica Mayo; meta-análises sobre eficácia terapêutica.
Fique bem!