Os lutos de que ninguém fala.

O luto de relacionamentos que ninguém reconhece. Porque dores invisíveis doem duas vezes – e como atravessá-las sem precisar de permissão para sofrer.

Quando um casamento acaba, todo mundo entende o luto. Quando um namoro longo termina, as pessoas oferecem sorvete e frases prontas. Mas e quando o que se perde é…

  • Aquela amizade que começou na pré-escola e durou anos esfriou sem explicação.
  • O colega de trabalho que virou confidente foi promovido e se mudou para outra cidade.
  • O quase-algo que nunca virou nome oficial, mas doía como se tivesse.

…aí o mundo parece esperar que você ligue o modo “superado” no dia seguinte.

Esse texto é para quem está de luto por algo que não veio em caixinha de “relacionamento tradicional” – e para quem quer ajudar alguém que esteja nessa situação.

Por que dói tanto (se “nem era namoro”?)

Uma coisa importante a saber é que o nosso cérebro não distingue entre tipos de vínculo:

De acordo com um estudo feito pela Universidade de Michigan, perder alguém importante ativa as mesmas áreas neurais que a dor física.

Rituais não reconhecidos são iguais a um luto não processado.

Se pararmos para pensar, não existe um “velório” para amizades mortas e ninguém te dá folga no trabalho por um “quase-amor” que acabou.

Os três tipos de rompimentos que ninguém lembra que machucam.

  • “A gente se conhecia desde pequenas…” (Amizades que viraram cinza). Sabe quando você olha o histórico de mensagens e vê “2 meses atrás”? Isso é um túmulo digital.
  • “Ela tornava meus dias menos difíceis no escritório” (Colegas de trabalho que partiram).
  • “A gente quase…” (Relacionamentos sem nome). A verdade é que terminar um “não-romance” é como enterrar um sonho: você chora por algo que poderia ter sido.

O grande problema é que curar feridas que não vêm com manual. Nessa grande jornada chamada Vida, nós entramos sem um manual de instrução. E muitas vezes não sabemos como agir frente a certas circunstâncias. Mas alguns passos podem te ajudar a entender e processar melhor o que está acontecendo:

1. Dê um nome à sua dor.

Escreva uma carta que nunca vai enviar (ou grave um áudio e delete). Crie um ritual de despedida: assista àquele filme ou ouça aquela música que era “de vocês” pela última vez.

2. Resista à comparação.

“Não era família, nem namoro” não anula o luto. Sua dor é válida mesmo sem categoria social.

3. Encontre testemunhas.

Busque quem entenda: uma terapeuta, grupos de apoio, fóruns online, até um diário.

Eu te dei alguns passos quando esse tipo de situação acontecer com você. Mas o que você pode dizer para alguém próximo que está nesta situação? Aqui posso te indicar esse artigo onde eu discorro de maneira mais profunda sobre isso. Lá eu falo sobre o que dizer – e sobretudo sobre o que não dizer – quando alguém se encontra nesse “luto sem defunto”.

As pessoas falam que o tempo cura tudo. Já eu penso que ele não cura tudo – mas reorganiza. E quando você menos perceber, você vai lembrar e não sentir mais o nó no peito. Claro que, quando falamos de um luto em que perdemos alguém importante para uma doença ou um acidente, isso não vai funcionar da mesma maneira.

Quando o tempo reorganizar as coisas, você vai finalmente reconhecer que foi importante exatamente porque doeu. E você deve guardar na mente que amores platonizados também contam como amor.

Nota da Aline: se alguém minimizar sua dor, lembre-se: “Até estrelas mortas ainda brilham por algum tempo – e tá tudo bem enxergar sua luz.”

E lembre-se: nenhum luto precisa de atestado para ser legítimo. Sua dor já é prova suficiente.

Fique bem!

 

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