“Fulano é tóxico.” Ciclana é tóxica.” Quantas vezes apontamos o dedo para os outros e soltamos essa frase – na maioria das vezes, com razão. Mas… e quando devemos reconhecer que, às vezes, a tóxica somos nós?
O nome disso é shadow work – o nome parece ter saído de um manual de vilão da Marvel, mas na verdade é só… reconhecer que você tem um cantinho na mente onde você guarda:
- Aquele ódio inexplicável por gente que assobia no elevador.
- A inveja da amiga que posta foto “feliz e realizada” (enquanto você está de pantufa e crise existencial).
- Seu talento oculto para sabotar seus próprios planos (sim, aquela vez que você marcou de acordar cedo e ficou rolando no TikTok até 3h conta).
Aqui a boa notícia é que todo mundo tem um lado sombrio. A má notícia? Ignorá-lo é como tentar apagar um incêndio com gasolina. Esse lado sombrio pode crescer com pequenas coisas. Um ranço aqui, uma virada de olhos ali… E quando você percebe, se tornou uma pessoa amarga e que afasta todo mundo. Mas calma – isso não significa que você precise de um divã freudiano ou virar um monge tibetano. Minha missão aqui é descomplicar as coisas.
Afinal de contas, o que é Shadow Work?
Em 1934, Carl Jung cunhou o termo “sombra” para descrever tudo que reprimimos porque achamos inaceitável. E não, não é só sobre raiva ou traumas – pode ser desde uma vergonha boba (tipo seu ódio por música sertaneja, mesmo fingindo que curte no churrasco) até medos que você não admite nem para si mesma.
Um estudo da Universidade de Berkeley mostrou que pessoas que reconhecem e integram seus aspectos “negativos” têm menos ansiedade e relacionamentos mais autênticos. Ou seja: encarar sua sombra não é autoflagelo – é liberdade com desconto.
Mas como fazer isso? Qual é o processo para identificar sua sombra e fazer com que a existência – e aceitação – dela seja menos terrível?
Passo 1: Identifique os seus “Tretinhas Internos”.
Vamos começar com perguntas que não parecem saídas de um interrogatório policial.
- “Qual emoção eu mais evito sentir?” (Raiva? Tristeza? Vontade de dar um grito no meio do metrô?
- “Quem eu julgo MUITO – e o que isso diz sobre o que nego em mim?” (Ex.: se você critica quem é “emocionado”, talvez tenha medo de parecer vulnerável.)
- “Quando foi a última vez que sabotei algo bom para mim – e que desculpa eu dei?”
Dica gratuita: Anote num diário (se você não tem diário, recomendo esse artigo aqui sobre journaling) ou no bloco de notas do celular entre um meme e outro. A sombra adora se esconder no piloto automático.
Passo 2: dê nome aos bois (ou aos mini monstros).
Sua sombra não é um bicho-papão – é mais como um personagem secundário irritante que vive fazendo aparições não solicitadas na sua vida. Que tal batizá-lo?
Quer exemplos reais? Aqui estão os nomes dos meus monstrinhos:
- “Dona Carmen”: a voz que diz “isso não vai dar certo” toda vez que eu tento algo novo. Acha que ela não disse nada quando eu decidi criar esse site?
- “Karen”: ela fala “foda-se” e me convence a comer o pote de sorvete antes da dieta começar.
Quando pensamos a respeito, brincar com isso tira o peso. Afinal, é mais fácil negociar com a “Karen” do que com “meus impulsos autodestrutivos”, né?
Passo 3: o exercício mais poderoso (e menos aterrorizante)
Dialogar com a própria sombra soava como loucura para mim até eu mesma testar. E cheguei à seguinte conclusão sobre como isso funciona:
- Pegue algo que você odeia nos outros (ex.: “Fulano é tão arrogante!”).
- Pergunte-se: “Quando eu já fiz/falei algo parecido?” (Nem que seja só na sua cabeça.)
- Aceite que todo mundo tem um pouquinho disso – até você.
Por que isso ajuda? Segundo Jung, o que nos irrita nos outros é um reflexo do que não aceitamos em nós. Ou seja: odiar arrogância pode ser sinal de que você reprime sua própria autoconfiança por medo de parecer “metido”.
Passo 4: abrace o seu caos (mas sem virar o Coringa).
Lembre-se de que shadow work não é sobre eliminar o seu lado sombrio – é sobre domesticá-lo. Tipo um gato bravo: não adianta brigar, mas se você der espaço e comida (no caso, atenção sem julgamento), ele para de arranhar seu sofá emocional.
- Pratique isso no dia a dia: Quando sentir uma emoção “feia”, respire e pense: “O que isso está me dizendo?”
Troque “Que absurdo eu sentir isso!” Por “Hmm, interessante… Por que será que estou com tanto ranço de fulano?”
Concluindo: sua sombra não é seu inimigo – é somente o seu co-piloto desajustado.
Lembra do filme Divertidamente? Pois é: a Tristeza salvou o dia. Sua sombra também tem um propósito – mesmo que seja só te lembrar que você é humano, não um avatar de positividade tóxica.
E se tudo der errado? Repita comigo: “Pelo menos não virei um vilão de anime.”
Fique bem!
Fontes para as estudiosas: Carl Jung; estudos sobre regulação emocional – UC Berkeley; psicologia de aceitação.