Sócrates e a Saúde Mental: Uma Filosofia de Autoconhecimento.

Hoje o tema Saúde Mental está em todos os cantos. Postagens no Instagram, vídeos no YouTube, conversas no TedX e no meu site, claro. A filosofia (dispersada em diversas escolas e linhas de pensamento) é um ótimo caminho para entendermos um pouco mais sobre o que é e qual o sentido da vida e dos nossos sofrimentos.

A filosofia de Sócrates, por exemplo, encontra ressonância surpreendente nos debates atuais sobre saúde mental. O pensador originário de Atenas, filho de um carpinteiro e de uma parteira, nunca escreveu uma linha, mas moldou o pensamento ocidental por meio dos relatos de Platão e outros discípulos. Ele propôs uma abordagem da vida baseada no autoconhecimento, no diálogo e na constante investigação da própria alma — elementos centrais para o bem-estar psíquico.

A máxima socrática “Conhece-te a ti mesmo” é, em essência, um convite à introspecção. Em tempos marcados pela ansiedade, pela pressa e pela hiperexposição nas redes sociais, essa orientação adquire nova força. Saber quem somos, o que valorizamos e como reagimos ao mundo é uma chave poderosa para lidar com a instabilidade emocional. A ignorância de si, segundo Sócrates, é fonte de erro e sofrimento. A filosofia socrática, ao promover o questionamento contínuo de crenças, desejos e hábitos, estimula uma atitude reflexiva que pode atenuar os impulsos destrutivos da mente.

Sócrates também nos ensinou a importância do diálogo. Não qualquer conversa, mas o “diálogo maiêutico”, aquele que busca fazer nascer ideias por meio de perguntas desestabilizadoras e reveladoras. Em vez de dar respostas prontas, Sócrates fazia seus interlocutores confrontarem suas próprias contradições. Esse método, aplicado terapeuticamente, lembra a técnica da psicoterapia moderna, que também se baseia na escuta, no questionamento e na construção conjunta de sentido.

Outro ponto relevante é a visão socrática de que a virtude é conhecimento. Ser virtuoso, para ele, não era uma questão moral abstrata, mas uma consequência do saber. Alguém que conhece o bem, necessariamente o pratica. Essa ideia, ao ser transposta para o campo da saúde mental, sugere que o conhecimento de si e do mundo é uma ferramenta para viver melhor, com mais equilíbrio e menos sofrimento. A ignorância, nesse contexto, não é apenas falta de informação, mas uma alienação de si que favorece angústias, medos infundados e conflitos internos.


Embora Sócrates não tenha oferecido uma “cura” para os males da mente, seu legado filosófico fornece instrumentos poderosos para enfrentá-los. Em um mundo que valoriza respostas rápidas e certezas absolutas, o pensamento socrático nos lembra da importância de parar, perguntar e, sobretudo, duvidar. Não para nos perdermos no ceticismo, mas para nos encontrarmos na busca sincera por sentido.

Para as estudiosas de plantão, uma leitura indispensável é o diálogo “Apologia de Sócrates”, de Platão, que retrata com força e dignidade o julgamento e a defesa do filósofo — um verdadeiro manifesto sobre a coragem de pensar.

Fique bem!

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